Sexta, 27 Maio 2011 às 17:21
Quantas vezes?
Quantas vezes desejaste que a vida fosse como um
filme, que pudesses gravar, que pudesses rebobinar para rever os momentos bons e
apagar de cena os momentos maus ou mesmo mantê-los para relembrares aquela lição
que não queres esquecer... sem perder pitada do que para trás ficou...
Quantas vezes desejaste reter aquele momento por tempo indeterminado,
parar no tempo... permanecer no limbo... reter aquele jogo de sentimentos e
sensações boas, fantásticas, poderosas, qual droga viciante que te invade,
incendeia, possui... e que sabes, que mesmo que o repitas o seu efeito não será
igual... pois cada cena, cada momento da tua vida tem o seu impacto diferente,
ainda que iguais...
Quantas vezes desejaste que certas e determinadas
coisas na vida não mudassem nunca, fossem eternas como o teu desejo, sabemos que
elas mudam, porque é natural que assim seja, mas não nos conformamos e
resistimos à mudança, rejeitamo-la, lutamos, estrebuchamos, e acabamos por ceder
ao vazio da nossa impotência...
Quantas vezes te apeteceu gritar e a voz
não te saiu, quiseste chorar e as lágrimas te secaram, tentaste bradar aos céus
e só conseguiste baixar os olhos, mantiveste um rosto sereno quando por dentro
estás um tumulto, sorriste e gracejaste quando por dentro choras...
Quantas vezes desejaste fechar os olhos e que tudo desaparecesse à tua
volta, um minuto de paz, um minuto de silêncio, um minuto de ausência, um minuto
de sossego, um minuto só teu...
Quantas vezes desejaste recuar um minuto
na vida, um minuto apenas, para apagar, emendar o teu caminho apenas por um
minuto, aquele reflexo que não tiveste, aquela distracção que te traiu, aquilo
que não lembraste, o passo que não deste, a porta que bateste e não devias ter
batido...
Quantas vezes sentiste o chão a fugir-te dos pés, a vida a
andar à roda, sentiste uma dor forte ao fundo do estômago e autênticas agulhas a
entrarem-te pelo corpo dentro, o pânico ao reconheceres que o mundo que
conheceste até aí desapareceu...
Quantas vezes te encontraste à beira do
precipício, sabendo que não podes voltar para trás, sabendo que não tens saída,
em vão procuraste a águia salvadora que te erguesse pelos ombros e te levasse
dali, te deixaste seduzir pela vontade de fechar os olhos e ceder, acabar com o
teu sofrimento ou levá-lo ao limite, deixares-te apenas cair... onde não há mais
nada...
Quantas vezes...
assinado,
a mulher-loba
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