sábado, 5 de novembro de 2011

Quantas vezes?


Sexta, 27 Maio 2011 às 17:21





Quantas vezes? 


Quantas vezes desejaste que a vida fosse como um filme, que pudesses gravar, que pudesses rebobinar para rever os momentos bons e apagar de cena os momentos maus ou mesmo mantê-los para relembrares aquela lição que não queres esquecer... sem perder pitada do que para trás ficou... 

Quantas vezes desejaste reter aquele momento por tempo indeterminado, parar no tempo... permanecer no limbo... reter aquele jogo de sentimentos e sensações boas, fantásticas, poderosas, qual droga viciante que te invade, incendeia, possui... e que sabes, que mesmo que o repitas o seu efeito não será igual... pois cada cena, cada momento da tua vida tem o seu impacto diferente, ainda que iguais... 

Quantas vezes desejaste que certas e determinadas coisas na vida não mudassem nunca, fossem eternas como o teu desejo, sabemos que elas mudam, porque é natural que assim seja, mas não nos conformamos e resistimos à mudança, rejeitamo-la, lutamos, estrebuchamos, e acabamos por ceder ao vazio da nossa impotência... 

Quantas vezes te apeteceu gritar e a voz não te saiu, quiseste chorar e as lágrimas te secaram, tentaste bradar aos céus e só conseguiste baixar os olhos, mantiveste um rosto sereno quando por dentro estás um tumulto, sorriste e gracejaste quando por dentro choras... 

Quantas vezes desejaste fechar os olhos e que tudo desaparecesse à tua volta, um minuto de paz, um minuto de silêncio, um minuto de ausência, um minuto de sossego, um minuto só teu... 

Quantas vezes desejaste recuar um minuto na vida, um minuto apenas, para apagar, emendar o teu caminho apenas por um minuto, aquele reflexo que não tiveste, aquela distracção que te traiu, aquilo que não lembraste, o passo que não deste, a porta que bateste e não devias ter batido... 

Quantas vezes sentiste o chão a fugir-te dos pés, a vida a andar à roda, sentiste uma dor forte ao fundo do estômago e autênticas agulhas a entrarem-te pelo corpo dentro, o pânico ao reconheceres que o mundo que conheceste até aí desapareceu... 

Quantas vezes te encontraste à beira do precipício, sabendo que não podes voltar para trás, sabendo que não tens saída, em vão procuraste a águia salvadora que te erguesse pelos ombros e te levasse dali, te deixaste seduzir pela vontade de fechar os olhos e ceder, acabar com o teu sofrimento ou levá-lo ao limite, deixares-te apenas cair... onde não há mais nada... 

Quantas vezes... 

assinado, 

a mulher-loba

Sem comentários:

Enviar um comentário